5 de nov. de 2008

Eu, sentimentos e Larissa.

A buzina estrondosa e o barulho de uma bruta batida, seguida de gritos por quem passava na rua tiraram toda minha atenção do violão e me fez ir à sacada que existe em meu quarto checar o que havia acontecido. Olhava para o estrago feito por aquela ambulância enquanto tragava meu cigarro e tentava descobrir quem estaria lá dentro. Será que se machucara? Foi uma pergunta rapidamente respondida, quando vi um paramédico ajudando uma garota negra que deve ser um pouco mais nova que eu a sair da ambulância amarrada a uma maca. Não se machucou, pura sorte. Estavam longe, mas eu sabia que conhecia aquela garota e, após alguns minutos a notícia que passara na TV respondera minha dúvida. Era a garota do manicômio que foi retirada da escola para ficar internada.
Neste exato momento o celular começou a tocar. Era Larissa, então logo atendi.
- Ei, Lari. Tudo bom?
- Tudo sim. Vamos fazer algo mais tarde?
Droga, eu realmente tinha que ir à escola com a minha mãe para ver se eu podia voltar a estudar lá? Aquela garota ainda mexia comigo, era difícil me controlar. Ainda mais com um convite para vê-la.
- Não posso, já fiz planos com minha mãe. Que tal amanhã?
- Ok, Donnie... Pode ser sim.
Dava para sentir a decepção na voz de Larissa, mas nada eu podia fazer. Então segundos depois nos despedimos e desliguei o celular.
Queria não me sentir culpada com esse sentimento, mas não é Larissa quem está comigo agora e sim Maria Clara. É nela quem devo pensar, e é ela quem devo ajudar amanhã na organização da festa que tocarei com minha banda no fim de semana. Ainda é segunda, mas esta festa tem de ser perfeita. Larissa vai. Droga.

Donna Sampaio

Filha de mãe solteira, passara dificuldades durante a infância. Isso mudou quando seu pai, dono de uma multinacional morreu e toda sua fortuna passou para sua única herdeira, ela. Donna foi morar sozinha, mas mandava uma mesada para a mãe. Ela era o que poderíamos chamar de extremamente interessante. Vocalista e guitarrista de uma banda Indie Rock que tinha com mais duas amigas. Seu cabelo mudava de cor constantemente. Ela não é do tipo magérrima, mas muito atraente. Seus seios grandes demais para sua idade eram invejados por muitas. Talvez todas.

28 de out. de 2008

"A volta de Donna"

Acordo, abro os olhos. Uma grande dor de cabeça, tento ficar quieta por alguns minutos, porém a dor que mais parecia agulhas fincando em meu cérebro não permitiu que o acontecesse. Olho para o lado, relógio mostra que já são sete e quinze da manhã, e me lembro que tenho de buscar Donna ao aeroporto, pois em algumas horas estaria chegando ao Rio. Ela viria de Londres com a nova companheira – o fato de ela estar com outra me angustiava algum tempo atrás, hoje já não faz diferença.
Levanto-me, vou até ao banheiro sentindo uma grande náusea, me olho no espelho, aquela imagem me incomodava, e logo me prendi em pensamentos que não me lembro e que não têm a menor importância. Quando volto a mim reparo que estava com a mesma roupa da noite passada – um vestido preto, cujos cortes são ousados e provocantes, de uma tal marca chamada Valentino – e tento me lembrar como fui parar em meu quarto.
Tomei um rápido banho, e ainda nua procuro meu celular que estaria em minha bolsa Chanel que também não me lembrara onde deixei. Ligo para a ultima chamada que estava gravada na memória, Freddy não atende. Coloco qualquer roupa cara que estaria jogada em meu guarda-roupa e vou à procura de Freddy para que me acompanhasse até ao aeroporto.
No elevador encontro Rosana, uma socialite cujo marido tem câncer.
- Bom dia Larissa! – disse a mulher em um tom simpático.
-Bom dia! – logo respondi.
O silêncio tomou conta até chegarmos ao hall, onde encontrei Freddy conversando com a bela balconista da loja de conveniência do hotel.
- Acordada há essa hora minha flor! Pelo seu estado ontem você deveria no mínimo dormir até às duas da tarde. – disse ele acompanhado de um sorriso.
- E você? O que faz acordado?
- Eu? Acabei de chegar.
Ele não havia dormido em seu quarto, passara a noite e a manhã toda na festa.
- Freddy, vai se trocar, temos que buscar Donna.
- Quem?
- Donna, já te falei sobre isso.
- Lari, você sabe que não me sinto confortável ao meio de tanto desperdício.
- Você não se ente confortável ao meu lado?
- Com você já me acostumei.
Após um rápido café, forte e sem açúcar para amenizar a ressaca, tomamos um táxi em direção ao aeroporto, onde Donna já deveria estar esperando. No caminho novamente o silêncio tomou conta até Freddy começar a fazer comentários sobre a noite passada.
- Você não se lembra de nada? – disse ele em um tom irônico.
- Sim, me lembro de pouca coisa, só não sei como minha noite terminou.
- Você estava mal, te levei para o hotel, e da portaria você seguiu sozinha.
- Então foi você!
Estava surpresa ao saber que minha noite havia terminado de tal forma.
Chegando ao aeroporto lá estava ela, como sempre havia mudado os cabelos, que estaria com um tom rosado. Sua nova companheira era bela, porém tinha um aspecto de inferioridade com aquelas roupas baratas. Como posso saber que ela usaria roupas baratas, eu sei, conheço aquele tipo de longe.

Larissa Abreu

Seu pai, fazendeiro exportador de soja e criador de gado Nelore. Sua mãe cansada do casamento e da vida no interior se divorcia e muda com a filha para o Rio de Janeiro, onde se torna artista plástica e monte um ateliê.
Larissa acostumou a ser uma garota sozinha, pois sua mãe sempre estava perdida em seu mundo de quadros e tintas.
É uma garota branca, com seu cabelo negro curto e repicado, magra e sempre bem vestida. Seu rosto é perfeito, muito delicado e com traços caucasianos, olhos grandes e profundos cujos cílios eram destacados com bastante rímel. Seu melhor amigo é Freddy, e eles mantêm uma verdadeira amizade...Coisa bem difícil de se achar em seus mundinhos.

25 de out. de 2008

"O começo"

“Uma nova mensagem” era o que estava na tela daquele celular importado do Japão que ganhara de minha mãe no aniversário de 15 anos. “Estou no velório de uma prima, não vou à aula hoje, saudades.”, dizia o texto mandado por Gisella, talvez a morena mais linda de todo o colégio. A morena mais linda e comprometida da qual eu trepo e finjo estar apaixonado nos fins de semana. Ela não ia à aula e isso pouco importa, dei a última tragada em meu Camel, joguei o toco com a ponta dos dedos e virei a esquina. Lá estava minha adorável escola e meus adorados colegas. Mentira. Não via a hora de encontrar Larissa e comentar alguma roupa ridícula que alguma garotinha mais pobre estaria usando.
- Você ficou sabendo? Aquela excluída horrorosa se matou ontem à noite, nem sei o nome dela, mas era da nossa sala.
Ouvi este comentário de um popularzinho para um qualquer da outra turma. Devo saber o nome dele, mas não faz diferença. Ah, este é o típico garoto do qual eu seria amigo se tivesse algum: Um tanto estiloso e, ainda por cima, bonito. Anorexo, todos sabiam, mas bonito.
Passei pelo portão principal como se o ar que eu respirava fosse melhor que o dos outros. Era, e eles sabiam. Alguma garota que passava apressada pelo corredor rumo à minha sala me esbarrou. E eu não suporto contato físico inesperado.
- Não olha por onde anda não, idiota? – Disse aquela loira perfeita do nome estranho que usava uma bolsa Chanel vermelha combinando com sua saia de um tom mais claro e seu perfume da mesma marca. Já o havia sentido.
- Eu não preciso olhar, linda. Você deveria o ter feito por mim. – Disse com meu tom mais estúpido. E continuei andando ao meu destino.
Ah, como eu queria entrar por debaixo daquela saia. E ainda vou, um dia, eu sei.
Entrei na sala, vários cochichos, vários comentários sobre o suicídio da feia excluída do outro 1° colegial. Avistei Larissa sentada ao fundo da sala com os pés em cima da mesa, como de costume, e sentei-me ao seu lado.
- E aí, gostosa, como tá?
- Com uma puta ressaca, Freddy. Exagerei no uísque do meu pai ontem à noite.
- Hahaha, só uísque? - Eu, como ela sabíamos que não havia só uísque na corrente sanguínea daquela lésbica...
E por 5 minutos continuamos as conversas fúteis que tanto adorávamos. Até a gorda mal comida da professora de física entrar na sala.
Agüentei por 30 minutos aquela voz estridente até ir para o banheiro e tentar, de algum modo acabar com o tédio. Minha última esperança era Gisella entrar no boxe e abaixar minhas calças caras, mas isso não aconteceria hoje. Então resolvi com o pó compacto que Lari me emprestara minutos atrás.
Devo ter levado o pó para casa, ou acabei com aquele saquinho ali mesmo no banheiro, não lembro. Antes de encontrar com Giovani, o melhor amigo, e perguntar se sua namorada Gisella estava superando a morte da querida prima que eu nem conhecia, sei que o resto do meu dia foi resumido a uísque e cigarros, deitado na cama.

Freddy Golberg

Sua mãe, após sofrer a dor da morte de seu milionário marido decidiu viajar, com seu filho, para visitar seus pais em Nova York. Enquanto caminhava pelas ruas geladas e movimentadas da grande maçã, decidiu parar para tomar um Martini, seu drink favorito e ficou encantada com um excêntrico rapaz que estava sentado sozinho, usando seu cachecol de aspecto barato, bebendo algo que parecia uísque e escrevendo em um caderno velho. Ela decidiu se aproximar e lhe ofereceu um cigarro. Ele recusou, disse que estava tentando parar de fumar. Conversaram durante horas - e ela descobrira que o homem era um escritor fracassado. – essas horas passaram-se para semanas e depois de meses se casaram e voltaram para o Rio de Janeiro.
O garoto adorava o pai adotivo e quase não sentia falta do biológico. Depois de casado, sua carreira como escritor decolava. Isso graças à influência que sua esposa, mãe de Freddy exercia sobre a High Society carioca.
Freddy é um rapaz branco, com o corpo extremamente belo e que ele fazia questão de ressaltar com suas roupas sempre coladas ao corpo. Sempre com a barba por fazer, seu cabelo escuro e liso, sempre arrepiado com gel combinava perfeitamente com seus olhos de mesma cor, bastante penetrantes. Ele tem várias garotas aos seus pés, mas seu sonho de consumo é apenas uma, Cisca.

23 de out. de 2008

Barulho

Quando criança era diferente, estudava no melhor colégio de sua cidade, chamavam-na de menina prodígio, pois com apenas nove anos já fazia as mais belas harmonias em seu violino.
Grande dificuldade em comunicação, não tinha amigos, e nem se preocupava com isso. As melhores notas, as melhores idéias, uma filha perfeita.
Ao completar quinze anos – a idade dos sonhos para qualquer garota – para ela não importava. Que diferença faz, é apenas mais um ano sem graça e sem nexo, logo pensava.
Ainda era a melhor de sua turma, ainda era a garota prodígio, e as harmonias eram as mesmas, estava limitada como pessoa. Não criava mais, não pensava mais.
Sempre com uma caixa às mãos – uma caixa pequena, sempre trancada por um cadeado.
Como sempre Leila chega do colégio, põe-se na mesa de jantar, conversa com os pais – coisas inúteis – e dirige-se ao seu quarto, como sempre em silêncio. Seus pais já acostumados.
Leila senta-se na sacada – pequena, porém confortável – acende seu cigarro, olha as estrelas, sempre com sua caixinha nas mãos. Minutos se passam, pela primeira vez em anos seus pais escutam um barulho vindo da sacada, apenas um tiro.